Teixeira da Bahia

A Fábrica de Lucros Que Consome Água, Solo e Biodiversidade

Nos bastidores do agronegócio, uma verdade inconveniente cresce tão rápido quanto as próprias árvores que a sustentam: o eucalipto avança como um rolo compressor sobre territórios que já não suportam mais perder vida. A discussão não é nova — e tampouco simples — mas, recentemente, ganhou contornos escandalosos. Enquanto especialistas insistem que os impactos “dependem”, o que se vê na prática é uma paisagem cada vez mais monocromática, marcada por fileiras perfeitas de uma espécie estrangeira que domina sem pedir licença.

Sim, existe quem aplauda. Argumentam que o eucalipto recupera áreas degradadas, captura carbono e exige pouca pulverização de agrotóxicos. Mas essa é apenas a vitrine. Atrás dela, esconde-se um cenário sombrio: cursos d’água agonizando, fauna deslocada sem destino e biomas inteiros perdendo seu mosaico vital para dar lugar a uma plantação que sequer deveria ser chamada de floresta.

A verdade é dura. O eucalipto não tem raízes na história natural do Brasil — e isso importa. Sua sede intensa por água, seu crescimento acelerado e sua presença maciça criam uma homogeneização que aniquila o espaço para a diversidade. O que resta é o que especialistas chamam, com desconforto crescente, de “lavoura florestal”. Um termo suave demais para uma realidade que lembra muito mais a monocultura industrial da soja, do milho ou da cana.

O mais escandaloso, no entanto, vem do campo político. O setor recebeu incentivos monumentais: novo plano nacional, lei que o retira da lista de atividades potencialmente poluidoras e desonera taxas ambientais. Como se monoculturas florestais fossem inofensivas. Como se água brotasse infinitamente das encostas secas do interior. Como se o Brasil pudesse continuar trocando suas florestas reais por florestas de faz de conta.

É claro que há vozes defendendo supostas vantagens — corredores ecológicos, certificações ambientais, redução da pressão sobre matas nativas. Mas mesmo essas narrativas soam frágeis diante do avanço desenfreado da monocultura. Corredores de eucalipto não substituem a riqueza de um bioma inteiro. Certificações não ressuscitam nascentes. A “restauração” promovida por árvores exóticas é, no máximo, uma maquiagem sobre um território esgotado.

O Brasil enfrenta um divisor de águas — literal e metafórico. Continuar expandindo o eucalipto sem limites é apostar numa paisagem bonita de longe e devastadora de perto.

Por Redação.

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